Se você é um jogador mais novo, que pegou do Nintendo 64 em diante, não se lembra tão bem do que é um beat’em up. Claro, de tempos em tempos, surgem games que, bem ou mal, utilizam as mecânicas do gênero, como por exemplo "God of War" e "Devil May Cry", mas eles não tem a pureza do que definiu o estilo na era de ouro, dos 8 aos 16 bits. E um dos games que deu a largada nesse período áureo da porradaria virtual foi “Double Dragon”, publicado pela Taito nos arcades em 1987 e no NES em 1988.
A história de “Double Dragon” é uma das simples e viscerais de todos os tempos. Você controla Billy Lee, um artista marcial com predileção por jaquetas sem mangas. A sua namorada, andando casualmente pela rua, é emboscada por uma gangue de bandidos, que dão um murro no estômago da garota, botam ela em cima do ombro e a levam pra deus sabe lá onde. Cabe a Billy descobrir o que está acontecendo. E com isso, eu quero dizer que cabe a eles encontrar a garota abrindo caminho com socos na cara e chutes no fígado. No final, o grande inimigo é... Jimmy. Quem? Vamos com calma.
Irmão traidor
Nos arcades, o game era jogado em modo cooperativo, com um jogador controlando Billy Lee e outro controlando seu irmão, Jimmy Lee. Na conversão para o NES, que tinha um poder de processamento muito menor, Jimmy foi cortado e os jogadores apenas podiam controlar Billy. Até mesmo no modo para dois jogadores, o controle de Billy era alternado entre os dois jogadores. O twist de que o seu irmão é o grande vilão é interessante, mas considerando que ele jamais foi apresentado e que o jogo não explica por que eles agora são rivais, tudo soa completamente aleatório, como um bom jogo de 8-bits deveria ser.
Os gráficos, para a época, são bem vivos e interessantes, mesmo com muita coisa acontecendo na tela. Seguindo o estilo clássico do NES, quando a situação aperta e o processador começa a pedir arrego, os elementos começam a piscar como se estivessem sendo banidos dessa dimensão, mas fora isso, o game se sai bem. Os inimigos reagem quando levam socos e chutes, os movimentos são relativamente bem animados e as fases são variadas.
Soco, soco, chute
A jogabilidade é, no entanto, a grande estrela do game. Ainda que, atualmente, ela possa ser considerada lenta e superficial, na época ela teve alguns elementos revolucionários ou, pelo menos, muito influentes. Ao contráiro de grande parte dos proto beat’em ups antes de “Double Dragon”, aqui os inimigos resistiam a diversos golpes, criando o conceito de combos. Apertando o botão de soco, o jogador dá dois golpes que preparam para um terceiro que joga o inimigo no chão. Variações desta ideia acompanharam os beat’em ups até o fim do SNES e, de certa forma, até hoje, ainda que em versões muito mais complexas.
Outra inovação interessante foi a interação com objetos do cenário. Se o jogador visse uma caixa ou um barril, poderia pegá-lo e jogar nos inimigos. Alguns deles vinham armados com porretes e facas, que também podiam ser usados pelo jogador para causar mais dano. Há também um sistema de aprendizado de novos golpes: é possível aprender uma voadora, é possível montar em inimigos caídos e dar uma saraivada de socos e por aí vai.
Dificuldade estilo NES
O game conta com apenas quatro fases, mas com aquele nível de dificuldade que beira a insanidade e fazia tanto sucesso no NES. É o suficiente para frustrar qualquer jogador acostumado a ser mimado pelas dificuldades altamente customizáveis de hoje. Na época, os jogos te chamavam para um desafio e cabia a você vencê-los. Bons tempos.
A grande falha de “Double Dragon” é investir, em algumas fases mais avançadas, em mecânicas de plataforma. O game não foi desenvolvido com isso em mente e, por isso, controlar Billy nessas seções se torna um exercício de paciência diante de uma programação irritante.
O jogo gerou algumas sequências. “Double Dragon II” é considerado por muitos o melhor da franquia, com uma jogabilidade aprimorada e gráficos melhores. “Double Dragon III” é a mancha na história da série, com uma jogabilidade ruim e uma dificuldade que ia além do sadismo. Billy e Jimmy também se juntaram com os Battletoads, se envolveram em um game de luta nos moldes de “Street Fighter” e estrelaram um péssimo filme nos anos 90. Depois disso, no entanto, a franquia murchou e raramente falam sobre os irmãos rivais (?) caratecas dos bons tempos do NES. Será que um dia eles voltam?
Categoria: _retrô_
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