sexta-feira, 13 de julho de 2012

A história dos games está cheia de consoles que deram errado

Ouya

E aí? Empolgadão com o tal do Ouya, o console Android? Sabendo que o projeto conquistou mais de US$ 1 milhão no Kickstarter em um único dia, provavelmente você deve estar. Mas calma aí. As coisas não são tão simples assim.
Por quê? Porque um console precisa muito mais do que dinheiro para se dar bem.
E isso não é uma suposição. A história já nos ensinou isso várias vezes. Criar, fabricar e vender um console é uma das tarefas mais difíceis em toda a área de eletrônicos de consumo. As empresas que tentam fazer isso precisam encontrar um equilíbrio perfeito entre potência, custo, tamanho do mercado e suporte aos desenvolvedores.
É por isso que apenas alguns consoles, pelo menos na era pós-1983, conseguiram ter sucesso. Para cada console da Nintendo, Sony e Microsoft que vende dezenas de milhões, há uma máquina de Atari, Philips, Amiga ou mesmo Sega que chega ao mercado, fracassa e quase (ou, em muitos casos, realmente consegue) arrasta uma empresa inteira para o buraco com ela.
Assumindo que o console realmente consiga chegar até o mercado, para começo de conversa.
Talvez os dois exemplos mais gloriosos dos perigos de entrar no mercado de consoles venham do 3DO e do Phantom.

3DO

O 3DO foi lançado em 1993. Apoiado pela Panasonic, e com modelos lançados pela Sanyo e Goldstar posteriormente, o 3DO era um verdadeiro console de próxima geração da época, ostentando um potencial gráfico que destruía a concorrência. Ele tinha sido levado ao mercado por Trip Hawkins, o homem que fundou a Electronic Arts. Parecia, na época, uma aposta certa. O primeiro desafio genuíno ao domínio da Sega e da Nintendo nos últimos anos.
Mas, três anos depois, ele não era sequer lembrado pelo público. O 3DO era muito caro, não conseguiu jogos o bastante, e foi logo foi correspondido em termos de desempenho pelo PlayStation e companhia. Quando a produção cessou, em 1996, o 3DO havia se tornado mais uma piada da indústria, um sinônimo de fracasso, do que um aparelho de sucesso.
Mas pelo menos ele chegou ao mercado e nas casas de algumas pessoas. Uma memória ainda mais ameaçadora para o futuro do Ouya vem do Phantom. Se o 3DO era um sinônimo de fracasso, então o Phantom era a própria definição da palavra.
Sua história é muito parecida com a do Ouya: um produto totalmente novo com um toque inovador buscando entrar no mercado e agitar as coisas.

Phantom

O Phantom foi revelado em 2004 e, como o Ouya, prometeu algo extraordinário: trazer jogos associados com outros dispositivos para a sala de estar. Enquanto o Ouya quer focar em pequenos jogos independentes e casuais, porém, o Phantom se gabava dizendo que poderia rodar jogos de PC, trazendo um mercado que na época era caro e restrito a computadores de mesa em versões mais baratas e mais acessíveis.
Que ótima ideia! E foi. Em teoria. O problema é que a Infinium Labs, criadora do Phantom, era uma empresa nova trazendo um produto novo para um mercado já estabelecido – e eles não aguentaram a pressão. Apesar de o conceito parecer ótimo para o público, e a parte técnica do console – que incluiria um controle em forma de teclado inovador – ser bacana, o fato era que a Infinium havia subestimado grosseiramente a quantidade de trabalho, preparação e, mais importante de tudo, apoio necessário para tirar o Phantom do papel.
Depois de dois anos de atrasos, tempo o bastante pare se tornar alvo de piadas da indústria, o Phantom desapareceu silenciosamente no esquecimento antes de vender sequer uma unidade.
Calma, eu não estou dizendo que o Ouya vai compartilhar o mesmo destino. Ele pode até mesmo conseguir revolucionar essa indústria paradona de consoles. Ou, mesmo que isso não aconteça, encontrar um nicho pequeno, mas confortável, no mercado.
O que estou dizendo é que, como Ian Bogost apontou hoje cedo, apoiar uma causa no Kickstarter pode ser divertido. Mas esse apoio é apenas um voto de suporte pago, não uma garantia de que o console vai mesmo ser feito – e muito menos que vai ter sucesso.
Então… aproveite o hype enquanto ele dura, mas se tudo terminar em dinheiro perdido e um rastro de promessas não cumpridas, não diga que a história não avisou.


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