quarta-feira, 6 de março de 2013

Microtransações e indústria “mercenária”: você é livre para não comprar

Dinheiro

A indústria dos games é justamente isso mesmo: uma indústria. O que significa que ela existe em um mundo capitalista. Sabe, um mercado livre. Um lugar em que você é livre para gastar seu dinheiro com o que quiser… ou até não gastar esse dinheiro. Essas empresas que lançam esses produtos? Elas estão atrás de negócios lucrativos. Elas existem para produzir, comercializar e lançar jogos incríveis, no fim das contas, por um motivo. Primeiro, por dinheiro, depois por consagração. E quando essas empresas abrem seus negócios no mercado de ações, elas são obrigadas a responder a seus acionistas. Significa que ela precisam fazer muita grana para aumentar o valor de cada ação. E isso a cada trimestre.
Se ajustarmos pela inflação, o preço médio de um jogo hoje, na verdade, é mais baixo do que nunca. Sem contar a comparação de horas de diversão/dólar que temos em relação a um filme.
Para produzir um jogo de alta qualidade são necessárias dezenas de milhões de dólares, valor que pode passar das centenas de milhões quando você soma as verbas de marketing. No mercado de jogos de console AAA, você precisa gastar uma tonelada de grana só em propagandas

Outro fator a considerar é que muitos estúdios de desenvolvimento ficam em lugares como San Francisco, onde o custo de vida é absurdamente alto. (Até Seattle está bastante cara ultimamente.) Esses artistas, programadores, designers e produtores talentosos que passam o tempo criando os jogos que você curte? Eles precisam comer e cuidar de suas famílias. (Algo que a garotada hipster parece não entender muito bem).
Tenho visto muitos comentários pela internet sobre microtransações. Uma palavrinha suja, não é mesmo? Os jogadores ficam irritados porque as produtoras/desenvolvedoras estão extorquindo o público. Eles se revoltam contra “as grandes empresas malignas que não têm noção e estão tentando roubar seu dinheiro”.

EA Meme

Mas eu vou ser bem direto nisso. Estou cansado de a EA ser vista como “a vilã da história”. Acho uma besteira que a EA ganhe o meme “scumbag” no Reddit e que a Valve fique com o “Good Guy”. Não me entenda mal. Eu sou um grande fã de Gabe Newell e companhia, e da maioria das coisas que eles fazem. (Eu comprei aquela turret de Portal que abalou a internet um tempo atrás e tenho amigos na Valve). Mas não entra na minha cabeça que os jogadores não percebam que a Valve é um negócio, assim como qualquer outro, e que ela seja vista como “cool” por vender um anel inútil em Team Fortress 2 por US$ 100, enquanto a EA é alguém do mal se fizer algo parecido. É, galera, eu sinto muito informar vocês, mas, por mais legal que ela seja, a Valve também está querendo ganhar o máximo de grana possível.
Ela só é muito melhor em controlar a sua imagem.

Ganhar dinheiro e gerenciar um negócio não é algo inerentemente do mal. Você cria empregos, gera crescimento, bota comida na mesa. Os EUA foram fundados no empreendedorismo. Claro, existem alguns princípios básicos de ética nos negócios (lembra daquele carro da Ford que pegava fogo?) e a necessidade de uma empresa de retribuir à sua comunidade, mas não é disso que estamos falando agora.
A galera adora falar mal do Origin, mas todo mundo esquece que, por um bom tempo, o Steam foi uma porcaria. Ninguém levou a plataforma da Valve a sério no começo. Anos atrás, quando Gabe mostrou o Steam para uns ex-colegas meus na GDC, eles ficaram constrangidos. (Quem está rindo agora?). Demorou anos para que a Valve fizesse o Steam chegar a essa forma brilhante que ele tem hoje. Mas parece que, na internet, todo mundo ignora isso, e eles crucificam a EA por tentar criar seu próprio serviço online.
Eu me lembro que essa raiva foi direcionada à Epic Games quando nós permitimos que os jogadores comprassem skins de armas em Gears of War 3. Eu respondi a um fã revoltado no Twitter que “Você é mais do que bem-vindo a não comprar o skin de arma cosmético e opcional que deixará você mais visível para o inimigo.” E quer saber? Apesar da revolta, as pessoas compraram muitos skins. (Eu vi os números).

Gears of War 3 - Skins

Se você não gosta da EA, não compre os jogos ela. Se você não gosta de microtransações, não gaste dinheiro com elas. É simples assim. A EA tem muita gente inteligente trabalhando para ela (Fala aí, Frank, JR e Patrick!), e eles não tentariam essas coisas se elas não funcionassem. Acontece que, sim, elas funcionam. Eu garanto para você que existem equipes de analistas estudando os números por trás do comportamento dos consumidores para saber como você, jogador, gasta sua tão preciosa grana.

Se você está reclamando disso nos fóruns e sites por aí, você é a minoria. A minoria que faz barulho. O jogador comum, que só compra o FIFA e o GTA, não sabe disso, não liga para isso. Ele não vê problemas em dar uma grana a mais para um jogo porque, hei, por que não?
O mercado, como eu falei antes, está em tal estado de agitação que os velhos modelos de negócios ou estão evoluindo, crescendo, ou estão morrendo. Ninguém tem certeza, na verdade. O “free-to-play”, goste dele ou não, veio para ficar. Cada um dos desenvolvedores no mercado está tentando solucionar o mistério por trás desse novo modelo. Todo jogo de consoles PRECISA ter um fluxo constante de DLC porque, do contrário, o que acontece? O jogo vai para a estante de usados, ou acaba sendo alugado. No mercado de consoles, você precisa fazer de tudo para ter certeza de que o disco vai ficar dentro do console. Eu costumava ficar ofendido com as práticas da Gamestop, mas vamos vamos ser sinceros… eles serão a próxima loja de discos. É só uma questão de tempo.

Citação

Lembre-se: se todo mundo comprar jogos usados, não vão existir mais jogos. Eu não quero rebaixar ninguém que esteja mal de grana – cara, quando eu era pequeno e trabalhava entregando jornais, eu gastava tudo com jogos usados. Mas entenda que, quando confrontados com essa questão, aqueles que produzem os jogos que você adora precisam inventar as maneiras mais criativas para que o negócio continue viável e, sim, lucrativo.
Dizer que um jogo tem microtransações é uma grande generalização, na verdade. É um comentário aberto a interpretações. O que você pode comprar? Um chapeuzinho acessório? Ou eu posso gastar uma grana para chegar no topo do ranking? Posso comprar uma arma maior? (É quase como dizer que um jogo tem mundo aberto; pode ser GTA, Assassin’s Creed ou até mesmo Borderlands.) A quais desses jogos você está se referindo? As práticas da Zynga parecem rasteiras? Claro. Você não gosta? Não jogue. Não gosta de pagar para ganhar? Você tem a liberdade de cair fora e nem chegar perto do produto.
Se você curte de verdade um produto, você vai dar seu dinheiro.

Ninguém pareceu ter ficado chateado com a Blizzard quando foi possível comprar um pet em World of Warcraft – um jogo que você precisa comprar, e depois pagar uma mensalidade. (Mas como os jogos de console ousam manter os ciclos de DLC pago?). Na minha infância eu era o Fanboy Supremo da Nintendo, e eu gastava cada centavo de entregador de jornal em qualquer coisa que tivesse o nome Nintendo. Cereais Nintendo. Bonecos. Pôsteres. Nintendo Power. Por que? Porque eu adorava o que a Nintendo significava para mim, e eu queria que eles continuassem produzindo aquela magia toda.

Cereal da Nintendo

As pessoas gostam de falar que nós deveríamos voltar aos “velhos tempos”, antes das microtransações, mas elas esquecem que os fliperamas foram as primeiras “máquinas de extorsão”. Aqueles jogos eram projetados para que você perdesse e continuasse gastando dinheiro com eles. Pergunte a qualquer um dos veteranos da Midway sobre suas técnicas de design. O penúltimo chefe de Mortal Kombat 2 era mais difícil que o último chefe porque muitas vezes ver o último chefão já é suficiente para muitos jogadores. O Pleasure Dome não existia originalmente em Total Carnage. Donkey Kong era difícil pra caramba de propósito.
Eu fui transparente com a maioria das pessoas com quem trabalhei em minha carreira em relação a por que eu entrei nesse negócio. Primeiro, para fazer produtos incríveis – porque eu amava essa mídia mais que tudo. Segundo, para ter visibilidade. Eu gosto da notoriedade que eu alcancei. E finalmente, sim, para ganhar dinheiro. O dinheiro não compra felicidade, mas ele com certeza é um bom lubrificante quando você pode fazer aquela viagem que sempre quis, ou cuidar da sua família, ou pagar suas contas em dia.
E isso me leva de volta ao ponto principal. Se você não gosta dos jogos, ou das técnicas de venda, não gaste seu dinheiro com eles. Você decide com o seu dinheiro.






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